Casos como o de Raquel são comuns, pois as mães ficam apreensivas ao
notar que o filho criou uma relação de dependência com um objeto. O problema é
que, na afobação de reverter o quadro, acabam tomando medidas que até
prejudicam o desenvolvimento do pequeno. “A ansiedade dos pais interfere no
equilíbrio emocional dos filhos, especialmente dos bebês. A família precisa
entender e aceitar que é normal e saudável a ligação do bebê com um objeto
externo ou mesmo com uma parte do próprio corpo. Ela acontece por uma
necessidade da criança e independe da vontade dos adultos”, diz a psicóloga
Cynthia Boscovich, de São Paulo.
A professora de dança Sonia Asensio, de São Paulo, sabe quanto isso
é verdadeiro. Sua filha, Valentina, 18 meses, nunca deu bola para chupeta nem
se apegou a um brinquedo específico. Mas, ao completar o primeiro ano, quando a
mãe iniciou o desmame, começou a se ligar ao paninho que cobria a poltrona de
amamentação. “Todos os dias, ela o pega, passa no rosto como se estivesse se
acariciando e até dorme com ele”, conta a mãe. Ela liberou o objeto para a
filha sem pensar duas vezes, pois concluiu que, pelo menos por enquanto, ele
está ajudando no processo de retirada do peito.
Descubra o momento ideal
Mas até quando vai essa ligação? “A partir do segundo ano, muitas
crianças desistem naturalmente desses apegos”, afirma Cynthia. Os sinais são
redução no uso e desinteresse pelo objeto. “Nessa fase, o bebê está mais maduro
e já consegue expressar suas carências de outras maneiras, comunicando-as em
palavras, por exemplo”, explica a psicóloga Isabel Khan, professora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e vice-presidente da Associação
Brasileira de Estudos sobre o Bebê.
É também nessa idade que a maioria das crianças amplia o círculo de
convivência e nota se os amiguinhos e pessoas à sua volta começam a estranhar o
fato de ela ainda usar chupeta ou andar com um paninho a tiracolo. Isso faz com
que ela tome a iniciativa de deixálos de lado. “A chupeta é o que mais
preocupa, pois, a partir do segundo ano, torna-se prejudicial à formação da
face, à respiração, à dentição e à fala”, alerta a pediatra Raquel Quiles,
médica assistente do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São
Paulo. Mesmo assim, emocionalmente, não dá para suprimi-la da vida do pequeno
de uma hora para outra. E lembre: nunca faça essa retirada em momentos de
instabilidade da criança ou da família, como a chegada de um irmão, a entrada
na escola, uma mudança de casa, a morte de alguém querido ou conflito entre os
pais.
Desse jeito, não!
Mesmo que seu filho tenha dado sinais de que não quer mais a chupeta
ou o paninho, é preciso conduzir a transição com bom senso. “É errado, por
exemplo, começar a chamar a chupeta de ‘caca’, se até recentemente ela era oferecida
o tempo todo pelos próprios pais”, avisa Raquel. Esse desligamento deve ser
gradual. Do contrário, gera muita ansiedade, pois o bebê de repente vai se
sentir privado do único recurso que conhece para se acalmar. “Além disso, se
ele não estiver realmente pronto para ficar sem aquele item que oferecia
segurança, a tendência é que eleja outro objeto para transferir seu apego”,
alerta Cynthia. Propor trocas e oferecer recompensas pelo eleito do seu filho
também não funciona. Ricardo, 2 anos, é um exemplo disso. “No Natal passado,
combinamos que eu daria um brinquedo a ele se jogasse a chupeta fora”, conta a
mãe, a farmacêutica carioca Fernanda Mesquita, 32 anos. “No dia 25, pusemos o
acordo em prática e, para sacramentá-lo, meu marido descartou a chupeta junto
com ele”, lembra. “Foi uma festa, mas, quando chegou a hora de dormir, precisei
pegar o carro e correr para uma farmácia 24 horas. Até hoje o bico de borracha
é o amigo inseparável de Ricardo”, diz Fernanda.
A receita que dá certo
Para evitar cenas como essa, faça a retirada gradativamente. “Se o
filho deixa o paninho de lado na hora de dormir, a mãe deve elogiá-lo e
premiá-lo com uma de monstração qualquer de afeto”, ensina a psicóloga Cecília
Zylberstajn, de São Paulo. A compensação é uma linguagem que o pequeno entende
e o ajuda a sentir-se seguro. “O desafio não é retirar o objeto, mas fazer com
que a criança não precise dele”, afirma ela. Funciona também usar brincadeiras
para mudar o foco do pequeno. Por exemplo, se com 2 anos ele ainda toma mamadeira
antes de dormir, que tal servir dois copos de leite, um para você e outro para
ele, e apostar quem fica com o maior bigode de espuminha?
A economista Paula Soares, 30 anos, de São Paulo, ficou atenta ao
desenvolvimento emocional da filha, Clara, 2 anos, antes de guardar a gatinha
de pelúcia que a menina sempre tinha nos braços. “Até 18 meses, qualquer coisa
era razão para ela agarrar o brinquedo. Aí a Clara entrou na escolinha e,
depois de seis meses, percebi que ela estava empolgada com o novo ambiente e os
amigos”, conta. Foi en tão que Paula e o marido começaram a desviar a atenção
de Clara para outras coisas. “Quando ela pedia o brinquedo, eu falava da escola
e, aos poucos, minha pequena abandonou o bichinho.” O momento de Clara tinha
chegado e tudo fluiu normalmente... como tem que ser para o filho se sentir
seguro e amado.
Comemore os avanços, mas resista à tentação de se desfazer de
imediato da chupeta ou do paninho esgarçado ao qual seu filho se ligou. Mesmo
que ele passe um adeus, chupeta e paninho! bom período sem pedi-los, guarde-os
fora de vista por dois ou três meses. Em situações que causam angústia ou
quando não está suficientemente maduro para se despedir desses objetos, pode
acontecer de o bebê voltar a solicitá-los depois de um tempo. Significa que
eles ainda são uma fonte de segurança importante para ele.
Se você não consegue consolar o pequeno de outra maneira, restitua o
eleito e prepare-se para tentar novamente dentro de alguns meses. Mas cuidado:
nada de tomar você a iniciativa de oferecer a chupeta de volta em um momento em
que a criança esteja chorosa ou insegura. “Não dá para transformar o objeto em
uma saída fácil para fazer o bebê ficar quieto. Se o filho choraminga porque
quer atenção, o ideal é conversar com ele, tentar descobrir o que o incomoda e
dar o carinho de que ele necessita”, ensina Isabel.
Sinais de alerta
Em qualquer situação, ficar de olho nos sinais que o filho emite é o
único jeito de saber se o objeto está cumprindo um papel positivo no
desenvolvimento dele ou se é indício de alguma dificuldade. “Um bebê que lança
mão deles o tempo inteiro, mesmo em um momento descontraído, como quando está
brincando, provavelmente sente-se inseguro”, aponta Isabel. Embora não exista
uma idade certa ou errada para tirar esses objetos queridos de circulação –
cada pequeno tem o próprio ritmo –, demoras excessivas são preocupantes. “Uma
criança com mais de 5 anos que ainda não conseguiu se desfazer da chupeta ou do
paninho pode estar com algum problema mais sério, com ela ou com o ambiente”,
diz Isabel. Nesses casos, um psicólogo infantil pode ajudar.
Para ajudar na despedida
O livro Tchau Chupeta (LeYa Brasil), lançado no Dia das Crianças, é
mais uma criação do projeto Pequeno Cidadão. Ele foi inspirado na música que
Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto fizeram para
incentivar as crianças a largar a chupeta. Custa 29,90 reais.
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